Tinha tanta certeza
E joguei todas fora.
Guardava um lugar cativo para você
Não guardo mais.
Esperava uma hora em especial no relógio:
Vinte e duas horas.
Vinte e dois segundo depois,
Eu estava feliz.
Vinte e dois dias passados, e tanto faz.
Agora, tanto faz.
Jamais havia dado tamanha importância
À pensamentos perdidos,
Sonhos embriagados e
Vontades loucas.
Mentiras loucas...
Passageiras,
Efêmeras,
Sem esforço algum de convencimento
Diante de tudo,
De todo o todo
Tão insignificante que me rodeia,
Que me cerca mas não me prende,
Não me prende mais!
Pois, amarras?!
Ah, amarras
Também não faço mais questão alguma
De tê-las.
Fernando Martilis
Desconfiança
E tudo mais que pudesse ajudá-lo a se proteger
Aprendera a forjar novos sorrisos, olhares e revestimentos
Percebera o quanto a volta exigira dele
Percebera que ganhou a capacidade de recriar
Caminhos nos quais nunca esteve
Explanar experiências que nunca vivera.
No frustrado retorno,
Percebera, enfim, que ele poderia ser quem bem quisesse ser
Percebera até mesmo que conseguira suprimir toda e qualquer
Imagem de frustração do percurso que fizera.
Tendo
como convite a presença do silêncio
Aproximei-me
aos pouquinhos, nunca rendi admiração ao silêncio.
Contudo
já tinha me feito presente te observando
Buscando,
talvez, algumas percepções.
Fascinado
a observar um alguém que,
De
alguma forma surpreendente,
Prendera
minha atenção
Despertando,
Misteriosamente,
O que
de melhor sempre me inspirou.
Pode-se
investir tanta verdade em um olhar?
Consequentemente,
da mesma forma que acontecera com todos os homens
Que
olharam fixamente nos olhos da sereia,
Petrifiquei
ao olhar os teus.
Nem
verdes, nem azuis.
Mas
da cor que eu preciso.
Mas,
por que preciso?
O que
te fez tão essencial de forma tão repentina?
Por
qual motivo tomas as minhas percepções desta forma?
Fazendo-me
ignorar toda e qualquer racionalidade?
Em
qualquer situação normal já teria na ponta da língua
Uma
boa resposta que me deixasse imune ao teu cativante olhar,
E
porque agora não consigo parar de gritar essas perguntas pra mim mesmo?
E
porque não me canso das nossas longas conversas?
Porque
me pego te querendo tanto e de uma forma tão simples?
Porque
tenho a sensação que minha felicidade seria mais simples e bonita com você?
Porque
determinas até mesmo as minhas preces?
O que
eu tenho pedido?!
O teu
olhar, sempre em direção ao meu.
É o que tem pra hoje. Chora não, ‘faz aí o capitão de farinha e feijão pr’a modi cumê’.
Somente uma única mulher
Durante toda a sua vida
Todas as outras apenas tentarão
Algumas até conseguirão
Deixa-lo, de certa forma,
Mais espantosamente equilibrado,
Sensato...
Acomodado com os resultados superficiais
De suas buscas tanto quanto.
Porém, aquela que lhe perturbara,
Virara-lhe o mundo ao avesso,
Jamais será esquecida
Tampouco será contestada
Na sua função de desordenar
Absolutamente tudo o que aquele
Pobre coitado homem
Tentara fazer, mediante todos os seus esforços,
No sentido de restabelecer o que outrora chamara de paz.
Fernando Martilis
De tudo o que não vivemos
O que ainda sonhamos viver
É o melhor.
E não falo daqueles sonhos
Que acabam ao abrirmos os olhos.
Estou falando daqueles sonhos que continuamos
A sonhar durante todo o dia
Até que se cruzam os olhares
Ao cair da noite
Quando nada mais parecia ter graça.
E neste instante,
Encho-me da tal certeza...
Isso mesmo... Certeza!
Essa coisa medonha e sem sentido,
Que traz você de volta todas as noites
Para os meus sonhos...
Para a nossa realidade sonhada de todos os dias.
Nela, me vejo tão certo de que te quero por perto
E me vejo, ainda mais certo, de que é somente no teu abraço
Que os meus dias se completam.
Fernando Martilis
Dançamos sob o luar
Sob alguns olhares perdidos no salão
Dançamos sem saber dançar
Tentando riscar nossos destinos pelo chão
Dançamos uma noite inteira
Ou talvez alguns minutos
Dois pra lá, dois pra cá, passos miúdos
De uma singela emoção verdadeira
De lá pra cá meus sonhos se repetem
Dois pra lá, dois pra cá, me pego dançando sozinho
Meus passos, meus sonhos e meu destino só a mim competem
Mas encontraram contigo um doce e prefeito caminho.
Fernando Martilis
Acorda pra vida rapaz, acorda!
Nunca teve espaço pra sonho na tua realidade não.
Sombra e água fresca muito menos.
Te levanta daí e bola pra frente
Se prenda a paisagem não porque o teu caminho é longo
E cheio delas,
Das mais bonitas,
Mas aprecia e anda,
Pois tua vida é movimento
Sem nada teu, sem nada pra carregar
'Simbora' rapaz, transforma esse teu sonhar besta
Em perspectiva palpável.
Olhar atento no caminho,
Fé e perseverança no horizonte,
Cabeça pra frente rapaz,
Isso sim te pertence
Porque sempre foi teu.
Fernando Martilis
Por intermédio do acaso,
Cruzei hoje de manhãzinha
Com a mulher da minha vida
Andando pela rua.
Por ocasião
Da minha costumeira desatenção,
A perdi de vista
Duas quadras à direita,
Assim como acontecera
Com todas as outras
Mulheres da minha vida.
Fernando Martilis
Quando olhares para trás
Não estarei mais lá, como de costume
Seguindo teu rastro,
Mendigando as sobras de carinho e atenção
Com as quais me mal acostumaste.
Quando olhares para trás
Estarei na cama daquele hotel,
Na qual me deixaste da última vez,
Sem um beijo de despedida sequer.
Quando olhares para trás
Não serei mais do que falsos sorrisos
Que maquiavam toda a minha tristeza
Ao responder-te sim
Após perguntar-me se estava tudo bem.
Não estava, não estou, não estarei.
Olha adiante agora, para a frente...
Vês?! Me vês?!
Não, não me vês!
E não mais me verás,
Nunca mais!
Fernando Martilis
Vou falar,
Vou mesmo é falar demais e de menos
Demais o desnecessário e de menos o essencial
O fundamental eu vou engolir da forma mais covarde
E soltar um dia, quem sabe
Quando todos pensarem que não fará mais sentido
Enquanto dentro de mim terá se tornado uma quimera
Eu vou a todo canto e não vou a lugar nenhum
Vou estar cheio de saudade e sem a menor evidência de falta
Vou escutar balada romântica e ecoar música eletrônica
Vou chorar e não cairá nenhuma lágrima
Apresentar milhões de alternativas sem nada concreto
Sonhar demais sem nem ao menos ter ido dormir ainda
Eu vou disfarçar as negações, as rejeições
Vou me esconder atrás das infames criações
Vou relutar algumas vezes
E vou desistir como sempre
Vou esquecer, vou lembrar
Vou esquecer de novo
E talvez, um dia, lembre mais uma vez
Vou mentir, omitir e tudo mais
Vou falhar, deixar as melhores oportunidades escapar
Aprender? Nada... Só no discurso
Vou temer, medir, refletir
Principalmente os outros
Refletir mesmo
Mandar pra longe de mim
E tendo falado todo o desnecessário
Me calo, me fecho
E faço do essencial o que eu sou de verdade.
Fernando Martilis
Se me faltar o foco
Eu tomo a direção do vento
Se me faltar a seriedade
Eu mergulho nos sorrisos
E danço ao som da melhor música
Aonde devia ter silêncio.
Se me faltar objetividade,
Aquela objetividade pura e mecânica do mundo,
Eu estarei transbordando
Objetivação subjetivada,
Ou subjetivando as objetividades alheias.
Se me faltar um carinho,
Eu vou em busca de outros mil,
Dois mil,
Cinco mil ou quantos necessários for
Para que eu não sinta que me falta
Mais nada,
Nem mesmo amor.
E que nunca me falte amor,
Esse não pode faltar...
Ao preço de me faltar tudo de mais necessário,
De me faltar as coisas que me movem.
Ao preço de me faltar comigo mesmo...
De não me bastar,
De não mais conseguir improvisar,
De não mais ser...
Fernando Martilis
Ahh... Bem que pudera mesmo
Desenhar -me
À fina e superficial descrição,
Partindo de pobres diálogos
E atos isolados.
Porém, digo-lhe que
Poderias falar do que eu era,
Entretanto não detêm de propriedade
Para dizeres o sujeito que tornei-me hoje.
Talvez, soubesse do que eu fizera outrora
Todavia, de forma alguma saberás dizer
O que, de fato, desejo fazer agora!
Suponho que,
Ousará cogitar o que eu sentira
Contudo, minha cara,
Do que eu sinto, nem eu mesmo, por vezes,
Sei do que se trata...
Convenhamos que é tolice desprezarmos
A totalidade e a complexidade que nos define
E apegar-nos a meros e passageiros detalhes.
Caso, tivesses debruçado teu olhar sobre mim
Da maneira mais singela possível,
Terias conseguido, quem sabe, até mesmo
Enxergar atráves de toda a superficialidade plantada
Tornando-te, assim, passível
Da intensidade que me move,
Do tempo que comove-me,
Da angústia ou da felicidade
Que esperam-me após o breve instante de viver...
E quem sabe,
Quem sabe?!
Terias vivido tantos desses instantes comigo.
Fernando Martilis
Não te julgarei moça,
Não por tentar amar e ser amada...
Mesmo que tenhas tentado teus experimentos
Até no último dos mortais.
Quem sou eu para julgar-te,
Para aprisionar teu vôo...
Consigo entender que necessitavas
Do horizonte.
Quanto aos outros,
Hão de compreender
O teu medo de ser só,
De estar só,
De morrer só.
Teu desespero por companhia,
Por um carinho que for ao fim de um dia,
De todos os dias.
Não é por mal,
Não foi por mal
Que destruítes tantos corações
Apaixonados,
Pois era do teu, que tentavas cuidar,
Remendar,
Reunir os cacos do que outrora fora sonho,
Fora vida.
Importante mesmo, é que ainda não desistisses,
Que ainda luta,
Que tenta bravamente,
Que busca o tal beijo que te fará sorrir...
Segue tua busca, moça
Segue tua busca que,
A felicidade, como costumam dizer,
É uma só...
Visita todas as moradas até que se apresente pra ti
O mais seguro dos ninhos,
O mais quentinho dos abraços,
O mais positivo dos pensamentos.
Aonde, finalmente possas repousar...
Pousar,
Amar,
Amada-Ser-Feliz.
Fernando Martilis
Ainda bem que ousei te fazer um afago
Contar dois ou três causos
Que me serviram para conquistar
Um sorriso teu.
Não sei bem como,
Contudo fiz-me necessário,
Encantei-me te encantando
E agora, não faço-me nenhum pouco de rogado
Ao confessar-me um louco por ti.
Do mesmo modo sinto que também és por mim...
Na verdade, aprecio a singela e charmosa
Dança à dois,
Dança de dois
Loucos que tornamos-nos.
Admiro a forma como o céu ilumina-se
Para namorarmos.
Prezo as nossas conversas longas,
Nossos devaneios apaixonados.
Finalmente, pequena, devo dizer-te...
Gosto mesmo do jeito que você gosta de mim!
Fernando Martilis
Engole,
Engole a seco...
Todo o desamor,
Todo o desgostar,
Todas as vezes que tentastes
E que fostes em vão.
Engole a seco
Aquele pensamento e aquela voz
Que vai te dizer;
Bem que eu te avisei...
E estavas avisado mesmo,
Mas engole a seco,
Também, e até mesmo
As predestinações...
Engole a seco,
Meu velho
Pois,
A bebida amanhã é outra,
O gosto é outro,
O paladar então... Nem se fala...
A boca, essa sim, fundamentalmente será outra!
Fernando Martilis
Eu quero o som, o molejo,
O traquejo,
O rebolado da menina que dança,
Olhando nos meus olhos,
Me hipnotizando a partir de um ritmo,
O ritmo do coração.
Quero já a graça, a leveza,
O convite de cada passo,
De cada pequeno gesto.
Quero o doce que promete
Ter teus beijos,
O cheiro de desejo que exala
Do perfume.
Quero o balançado dos cabelos negros,
A simpatia do olhar...
'Pera' lá,
O que faço então eu aqui,
De longe apenas a observar...
Não me vejo com outra alternativa
Que não seja tirar essa mulher
Para dançar.
Fernando Martilis