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Escapar

Saiu pela tangente,
Escapou de possivelmente encontrar a felicidade
Aos olhos de alguns,
Escapou de mais uma decepção
Aos olhos dela.
Aperfeiçoara-se na arte da fuga,
Aquela linda moça.
Perdera a sua capacidade de reconhecer que consegue amar
Por conta de alguma desconfiança,
Alguma mentira,
Não sabia como lidar com um país inteiro de insegurança
Que cabia dentro das feridas dela.
Julgavam-na,
Rotulavam-na,
Pouco se importava.
Se ainda tinha segurança em algo,
Era na sua intensa necessidade de escapar,
Não sucumbir ao que pode enfraquecê-la.
Fugia, sem o menor pudor de não demonstrar coragem,
Como animais que lutam para sobreviver na selva.
Para ela, a selva era tudo aquilo
Que plantou dentro de si.


Fernando Martilis

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Aquele que ninguém quer ser


Acordava todos os dias, de manhã bem cedo, aquele solitário homem. Muito provavelmente, se ouvisse um bom dia, era dele próprio ao olhar-se no espelho. Aliás, aquele rosto amargo que via no espelho o acompanhava havia um tempo. Esquecera-se o ultimo afago que recebera, se algum dia o tiver recebido.  Esquecera, com certeza, a última vez que sorrira.

Muitas eram as hipóteses, as tentativas alheias de criar o que fora o seu passado. Contudo, poucas eram as verdades concretas sobre a sua história. Havia quem dissesse que perdera a família num trágico acidente. Havia quem dissesse que traíra sua esposa e perdera o afeto desta e dos filhos. Outra versão narra que se tratava de um homem devotado ao trabalho e que nem sequer constituiu família. Fora um médico, um advogado, um executivo, que só pensou em acumular dinheiro durante a vida inteira, afastando assim, todas as pessoas próximas.

Pouco depois do amanhecer, saia com seus passos lentos em direção ao mercado. Se pudéssemos ouvir as batidas do seu coração, provavelmente seriam como o seu caminhar... Lento, bem lento. O coração de um alguém que nada sente, nada lembra, nada têm. No fim da vida, aparentava fazer um único esforço: respirar. Respirava difícil, ofegante, como se poupasse energia para mais alguns passos.

O que fazia no restante do dia era um desafio para qualquer bom ‘imaginador’. Talvez lesse um bom livro, talvez escutasse velhas músicas que lhe lembrasse outras épocas mais felizes, talvez. Quem sabe fizesse belas esculturas, contrariando o seu triste viver, e as guardasse só para si, quem sabe...

Fato é que, independente do que fizesse, no outro dia, ao amanhecer, aos olhos de quem o via caminhar lentamente pela rua, ele ainda era a mesma pessoa. Exibia a mesma expressão amarga e solitária, a mesma face de quem não tem nada queria ter, a face de um pobre homem, aquele que ninguém quer ser.

Fernando Martilis

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Efemeridade

Tinha tanta certeza
E joguei todas fora.
Guardava um lugar cativo para você
Não guardo mais.
Esperava uma hora em especial no relógio:
Vinte e duas horas.
Vinte e dois segundo depois,
Eu estava feliz.
Vinte e dois dias passados, e tanto faz.
Agora, tanto faz.
Jamais havia dado tamanha importância
À pensamentos perdidos,
Sonhos embriagados e
Vontades loucas.
Mentiras loucas...
Passageiras,
Efêmeras,
Sem esforço algum de convencimento
Diante de tudo,
De todo o todo
Tão insignificante que me rodeia,
Que me cerca mas não me prende,
Não me prende mais!
Pois, amarras?!
Ah, amarras
Também não faço mais questão alguma
De tê-las.

Fernando Martilis

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Do percurso


Na ida
Seguiu cheio de sonhos e expectativas
Despiu-se de tudo que o amarrava
Nu de todo o medo
Sorrindo esperança
Refletia novos tempos no olhar
Quando percebeu que precisaria dar meia volta
O olhar duvidou da capacidade dos próprios pés
Em ter que descaminhar aquele imenso percurso que já tivera feito
O sorriso perdera-se no meio do caminho
Recobriu-se de insegurança
Desconfiança
E tudo mais que pudesse ajudá-lo a se proteger
Aprendera a forjar novos sorrisos, olhares e revestimentos
Percebera o quanto a volta exigira dele
Percebera que ganhou a capacidade de recriar
Caminhos nos quais nunca esteve
Explanar experiências que nunca vivera.
No frustrado retorno,
Percebera, enfim, que ele poderia ser quem bem quisesse ser
Percebera até mesmo que conseguira suprimir toda e qualquer
Imagem de frustração do percurso que fizera.

Fernando Martilis

 

 

 

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Cativar

Tendo como convite a presença do silêncio
Aproximei-me aos pouquinhos, nunca rendi admiração ao silêncio.
Contudo já tinha me feito presente te observando
Buscando, talvez, algumas percepções.
Fascinado a observar um alguém que,
De alguma forma surpreendente,
Prendera minha atenção 
Despertando,
Misteriosamente,
O que de melhor sempre me inspirou.
Pode-se investir tanta verdade em um olhar?
Consequentemente, da mesma forma que acontecera com todos os homens
Que olharam fixamente nos olhos da sereia,
Petrifiquei ao olhar os teus.
Nem verdes, nem azuis.
Mas da cor que eu preciso.
Mas, por que preciso?
O que te fez tão essencial de forma tão repentina?
Por qual motivo tomas as minhas percepções desta forma?
Fazendo-me ignorar toda e qualquer racionalidade?
Em qualquer situação normal já teria na ponta da língua
Uma boa resposta que me deixasse imune ao teu cativante olhar,
E porque agora não consigo parar de gritar essas perguntas pra mim mesmo?
E porque não me canso das nossas longas conversas?
Porque me pego te querendo tanto e de uma forma tão simples?
Porque tenho a sensação que minha felicidade seria mais simples e bonita com você?
Porque determinas até mesmo as minhas preces?
O que eu tenho pedido?!
O teu olhar, sempre em direção ao meu.

Fernando Martilis

 

 

 

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Além das fronteiras

Pela presença do silêncio aproximou-se
Tendo antes observado tudo o que pudesse contribuir
A julgar melhor aquela situação.
Talvez olhá-la tão fixamente tenha sido o seu erro maior.
Como um daqueles homens que viram pedra
Quando olham nos olhos da sereia,
Ficou imóvel ao olhar bem dentro daqueles lindos olhos
Nem verdes nem azuis,
Mas da cor que precisava.
Mas por que precisava?
O que a fez essencial?
Perguntava-se.
Num breve instante de reflexão,
No tempo que durava sete ou oito passos,
Sem conseguir decifrar nenhum sinal,
Percebeu que, da forma mais simples e bonita,
Sentia que ela encaixava-se em algo que lhe faltava.
Ao chegar mais perto,
Aquele olhar cativante
Passou a expressar receio.
Ao esticar-lhe a mão, obteve como resposta um olhar em fuga.
Em contrapartida ao seu sorriso claro, balançou-lhe negativamente com a cabeça
Baixou a cabeça, talvez tentando enxergar dentro de si
E entender tudo o que sentia naquele momento.
Não a viu partir,
Também não a viu olhar para trás discretamente
Com um imenso desejo expresso no olhar de voltar e ficar...
Não a viu sumir levando consigo os motivos de não ter ficado.
Fernando Martilis
 
 
 
 
 
 
 


 

 

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REAL


- Chora não meu filho, chora não!
 É o que tem pra hoje. Chora não, ‘faz aí o capitão de farinha e feijão pr’a modi cumê’.

Faz-se capitão meu filho, um dia, para ter o teu melhor sustento. Era o que dizia a mãe tentando apontar um futuro para o filho.

E bem que o menino tentou virar capitão, porém encontrou o seu fim aos dezesseis, na empreitada em que a vida o colocou. O menino via o seu melhor sustento sendo ladrão, e das mãos de um aspirante a capitão foi disparado um tiro, contra a sua realidade e seus sonhos ao mesmo tempo, atingindo bem aonde mais lhe doía; na fome.

- Ô minha filha, mistura aí essa farinha com banha e sal, e se conforma. Agradece a Deus pelo teto que ainda cobre nossas ‘cabeça’, podia ser pior minha filha, e pede a Ele pelo nosso pão de cada dia! ‘Sacia tua fome com isso aí e depois toma uma garapa’.

E a menina não entendia como Deus pudera ser tão injusto com ela. Alimentada pela revolta, que nunca bastou diga-se de passagem, aos quatorze, para saciar sua fome passou a saciar, ela, a fome dos viajantes na beira da estrada. Aos vinte, deparou-se com uma doença que nunca nem mesmo ouvira falar... Descobriu como a fome corroeu o seu corpo por dentro. Se fora anos mais tarde por causa da tal da AIDS.

A mãe que tanto tentava consolar os filhos chorava todos os dias escondida a dor da miséria. Chorava e culpava-se, pois sentia - na sua percepção de mundo - que havia matado os seus filhos logo após o momento em que os colocou no mundo, logo depois do primeiro choro de fome.

Fernando Martilis

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A única

Somente uma única mulher

Irá tirar completamente a racionalidade de um homem
Durante toda a sua vida
Todas as outras apenas tentarão
Algumas até conseguirão
Deixa-lo, de certa forma,
Mais espantosamente equilibrado,
Sensato...
Acomodado com os resultados superficiais
De suas buscas tanto quanto.
Porém, aquela que lhe perturbara,
Virara-lhe o mundo ao avesso,
Jamais será esquecida
Tampouco será contestada
 Na sua função de desordenar
Absolutamente tudo o que aquele
Pobre coitado homem
Tentara fazer, mediante todos os seus esforços,
No sentido de restabelecer o que outrora chamara de paz.

Fernando Martilis

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Traição

Até onde não suspeitei,

Até quando não encontrei contradições nas suas respostas,
Até não mais me contentar com um “eu te amo” como solução para tudo,
Até os atrasos passarem a representar desconfiança,
Até saber que tudo que era para mim
Agora é para outra.
Fernando Martilis

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Tão Certo

De tudo o que não vivemos
O que ainda sonhamos viver
É o melhor.
E não falo daqueles sonhos
Que acabam ao abrirmos os olhos.
Estou falando daqueles sonhos que continuamos
A sonhar durante todo o dia
Até que se cruzam os olhares
Ao cair da noite
Quando nada mais parecia ter graça.
E neste instante,
Encho-me da tal certeza...
Isso mesmo... Certeza!
Essa coisa medonha e sem sentido,
Que traz você de volta todas as noites
Para os meus sonhos...
Para a nossa realidade sonhada de todos os dias.
Nela, me vejo tão certo de que te quero por perto
E me vejo, ainda mais certo, de que é somente no teu abraço
Que os meus dias se completam.

Fernando Martilis

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Nosso Forró

Dançamos sob o luar
Sob alguns olhares perdidos no salão
Dançamos sem saber dançar
Tentando riscar nossos destinos pelo chão

Dançamos uma noite inteira
Ou talvez alguns minutos
Dois pra lá, dois pra cá, passos miúdos
De uma singela emoção verdadeira

De lá pra cá meus sonhos se repetem
Dois pra lá, dois pra cá, me pego dançando sozinho
Meus passos, meus sonhos e meu destino só a mim competem
Mas encontraram contigo um doce e prefeito caminho.

Fernando Martilis

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Despertar

Acorda pra vida rapaz, acorda!
Nunca teve espaço pra sonho na tua realidade não.
Sombra e água fresca muito menos.
Te levanta daí e bola pra frente
Se prenda a paisagem não porque o teu caminho é longo
E cheio delas,
Das mais bonitas,
Mas aprecia e anda,
Pois tua vida é movimento
Sem nada teu, sem nada pra carregar
'Simbora' rapaz, transforma esse teu sonhar besta
Em perspectiva palpável.
Olhar atento no caminho,
Fé e perseverança no horizonte,
Cabeça pra frente rapaz,
Isso sim te pertence
Porque sempre foi teu.

Fernando Martilis

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Desatenção

Por intermédio do acaso,
Cruzei hoje de manhãzinha
Com a mulher da minha vida
Andando pela rua.
Por ocasião
Da minha costumeira desatenção,
A perdi de vista
Duas quadras à direita,
Assim como acontecera
Com todas as outras
Mulheres da minha vida.

Fernando Martilis

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Sublimação

Quando olhares para trás
Não estarei mais lá, como de costume
Seguindo teu rastro,
Mendigando as sobras de carinho e atenção
Com as quais me mal acostumaste.
Quando olhares para trás
Estarei na cama daquele hotel,
Na qual me deixaste da última vez,
Sem um beijo de despedida sequer.
Quando olhares para trás
Não serei mais do que falsos sorrisos
Que maquiavam toda a minha tristeza
Ao responder-te sim
Após perguntar-me se estava tudo bem.
Não estava, não estou, não estarei.
Olha adiante agora, para a frente...
Vês?! Me vês?!
Não, não me vês!
E não mais me verás,
Nunca mais!

Fernando Martilis

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Em síntese


Vou falar,
Vou mesmo é falar demais e de menos
Demais o desnecessário e de menos o essencial
O fundamental eu vou engolir da forma mais covarde
E soltar um dia, quem sabe
Quando todos pensarem que não fará mais sentido
Enquanto dentro de mim terá se tornado uma quimera
Eu vou a todo canto e não vou a lugar nenhum
Vou estar cheio de saudade e sem a menor evidência de falta
Vou escutar balada romântica e ecoar música eletrônica
Vou chorar e não cairá nenhuma lágrima
Apresentar milhões de alternativas sem nada concreto
Sonhar demais sem nem ao menos ter ido dormir ainda
Eu vou disfarçar as negações, as rejeições
Vou me esconder atrás das infames criações
Vou relutar algumas vezes
E vou desistir como sempre
Vou esquecer, vou lembrar
Vou esquecer de novo
E talvez, um dia, lembre mais uma vez
Vou mentir, omitir e tudo mais
Vou falhar, deixar as melhores oportunidades escapar
Aprender? Nada... Só no discurso
Vou temer, medir, refletir
Principalmente os outros
Refletir mesmo
Mandar pra longe de mim
E tendo falado todo o desnecessário
Me calo, me fecho
E faço do essencial o que eu sou de verdade.
Fernando Martilis


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Subexistir


Se me faltar o foco
Eu tomo a direção do vento
Se me faltar a seriedade
Eu mergulho nos sorrisos
E danço ao som da melhor música
Aonde devia ter silêncio.
Se me faltar objetividade,
Aquela objetividade pura e mecânica do mundo,
Eu estarei transbordando
Objetivação subjetivada,
Ou subjetivando as objetividades alheias.
Se me faltar um carinho,
Eu vou em busca de outros mil,
Dois mil,
Cinco mil ou quantos necessários for
Para que eu não sinta que me falta
Mais nada,
Nem mesmo amor.
E que nunca me falte amor,
Esse não pode faltar...
Ao preço de me faltar tudo de mais necessário,
De me faltar as coisas que me movem.
Ao preço de me faltar comigo mesmo...
De não me bastar,
De não mais conseguir improvisar,
De não mais ser...
Fernando Martilis

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Do que não se sabe


Ahh... Bem que pudera mesmo
Desenhar -me
À fina e superficial descrição,
Partindo de pobres diálogos
E atos isolados.
Porém, digo-lhe que
Poderias falar do que eu era,
Entretanto não detêm de propriedade
Para dizeres o sujeito que tornei-me hoje.
Talvez, soubesse do que eu fizera outrora
Todavia, de forma alguma saberás dizer
O que, de fato, desejo fazer agora!
Suponho que,
Ousará cogitar o que eu sentira
Contudo, minha cara,
Do que eu sinto, nem eu mesmo, por vezes,
Sei do que se trata...
Convenhamos que é tolice desprezarmos
A totalidade e a complexidade que nos define
E apegar-nos a meros e passageiros detalhes.
Caso, tivesses debruçado teu olhar sobre mim
Da maneira mais singela possível,
Terias conseguido, quem sabe, até mesmo
Enxergar atráves de toda a superficialidade plantada
Tornando-te, assim, passível
Da intensidade que me move,
Do tempo que comove-me,
Da angústia ou da felicidade
Que esperam-me após o breve instante de viver...
E quem sabe,
Quem sabe?!
Terias vivido tantos desses instantes comigo.
Fernando Martilis

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Buscas


Não te julgarei moça,
Não por tentar amar e ser amada...
Mesmo que tenhas tentado teus experimentos
Até no último dos mortais.
Quem sou eu para julgar-te,
Para aprisionar teu vôo...
Consigo entender que necessitavas
Do horizonte.
Quanto aos outros,
Hão de compreender
O teu medo de ser só,
De estar só,
De morrer só.
Teu desespero por companhia,
Por um carinho que for ao fim de um dia,
De todos os dias.
Não é por mal,
Não foi por mal
Que destruítes tantos corações
Apaixonados,
Pois era do teu, que tentavas cuidar,
Remendar,
Reunir os cacos do que outrora fora sonho,
Fora vida.
Importante mesmo, é que ainda não desistisses,
Que ainda luta,
Que tenta bravamente,
Que busca o tal beijo que te fará sorrir...
Segue tua busca, moça
Segue tua busca que,
A felicidade, como costumam dizer,
É uma só...
Visita todas as moradas até que se apresente pra ti
O mais seguro dos ninhos,
O mais quentinho dos abraços,
O mais positivo dos pensamentos.
Aonde, finalmente possas repousar...
Pousar,
Amar,
Amada-Ser-Feliz.
Fernando Martilis

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Deleite


Ainda bem que ousei te fazer um afago
Contar dois ou três causos
Que me serviram para conquistar
Um sorriso teu.
Não sei bem como,
Contudo fiz-me necessário,
Encantei-me te encantando
E agora, não faço-me nenhum pouco de rogado
Ao confessar-me um louco por ti.
Do mesmo modo sinto que também és por mim...
Na verdade, aprecio a singela e charmosa
Dança à dois,
Dança de dois
Loucos que tornamos-nos.
Admiro a forma como o céu ilumina-se
Para namorarmos.
Prezo as nossas conversas longas,
Nossos devaneios apaixonados.
Finalmente, pequena, devo dizer-te...
Gosto mesmo do jeito que você gosta de mim!
Fernando Martilis

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À Cowboy


Engole,
Engole a seco...
Todo o desamor,
Todo o desgostar,
Todas as vezes que tentastes
E que fostes em vão.
Engole a seco
Aquele pensamento e aquela voz
Que vai te dizer;
Bem que eu te avisei...
E estavas avisado mesmo,
Mas engole a seco,
Também, e até mesmo
As predestinações...
Engole a seco,
Meu velho
Pois,
A bebida amanhã é outra,
O gosto é outro,
O paladar então... Nem se fala...
A boca, essa sim, fundamentalmente será outra!
Fernando Martilis

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Gafieira

Eu quero o som, o molejo,
O traquejo,
O rebolado da menina que dança,
Olhando nos meus olhos,
Me hipnotizando a partir de um ritmo,
O ritmo do coração.
Quero já a graça, a leveza,
O convite de cada passo,
De cada pequeno gesto.
Quero o doce que promete
Ter teus beijos,
O cheiro de desejo que exala
Do perfume.
Quero o balançado dos cabelos negros,
A simpatia do olhar...
'Pera' lá,
O que faço então eu aqui,
De longe apenas a observar...
Não me vejo com outra alternativa
Que não seja tirar essa mulher
Para dançar.

Fernando Martilis