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Em síntese


Vou falar,
Vou mesmo é falar demais e de menos
Demais o desnecessário e de menos o essencial
O fundamental eu vou engolir da forma mais covarde
E soltar um dia, quem sabe
Quando todos pensarem que não fará mais sentido
Enquanto dentro de mim terá se tornado uma quimera
Eu vou a todo canto e não vou a lugar nenhum
Vou estar cheio de saudade e sem a menor evidência de falta
Vou escutar balada romântica e ecoar música eletrônica
Vou chorar e não cairá nenhuma lágrima
Apresentar milhões de alternativas sem nada concreto
Sonhar demais sem nem ao menos ter ido dormir ainda
Eu vou disfarçar as negações, as rejeições
Vou me esconder atrás das infames criações
Vou relutar algumas vezes
E vou desistir como sempre
Vou esquecer, vou lembrar
Vou esquecer de novo
E talvez, um dia, lembre mais uma vez
Vou mentir, omitir e tudo mais
Vou falhar, deixar as melhores oportunidades escapar
Aprender? Nada... Só no discurso
Vou temer, medir, refletir
Principalmente os outros
Refletir mesmo
Mandar pra longe de mim
E tendo falado todo o desnecessário
Me calo, me fecho
E faço do essencial o que eu sou de verdade.
Fernando Martilis


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Subexistir


Se me faltar o foco
Eu tomo a direção do vento
Se me faltar a seriedade
Eu mergulho nos sorrisos
E danço ao som da melhor música
Aonde devia ter silêncio.
Se me faltar objetividade,
Aquela objetividade pura e mecânica do mundo,
Eu estarei transbordando
Objetivação subjetivada,
Ou subjetivando as objetividades alheias.
Se me faltar um carinho,
Eu vou em busca de outros mil,
Dois mil,
Cinco mil ou quantos necessários for
Para que eu não sinta que me falta
Mais nada,
Nem mesmo amor.
E que nunca me falte amor,
Esse não pode faltar...
Ao preço de me faltar tudo de mais necessário,
De me faltar as coisas que me movem.
Ao preço de me faltar comigo mesmo...
De não me bastar,
De não mais conseguir improvisar,
De não mais ser...
Fernando Martilis

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Do que não se sabe


Ahh... Bem que pudera mesmo
Desenhar -me
À fina e superficial descrição,
Partindo de pobres diálogos
E atos isolados.
Porém, digo-lhe que
Poderias falar do que eu era,
Entretanto não detêm de propriedade
Para dizeres o sujeito que tornei-me hoje.
Talvez, soubesse do que eu fizera outrora
Todavia, de forma alguma saberás dizer
O que, de fato, desejo fazer agora!
Suponho que,
Ousará cogitar o que eu sentira
Contudo, minha cara,
Do que eu sinto, nem eu mesmo, por vezes,
Sei do que se trata...
Convenhamos que é tolice desprezarmos
A totalidade e a complexidade que nos define
E apegar-nos a meros e passageiros detalhes.
Caso, tivesses debruçado teu olhar sobre mim
Da maneira mais singela possível,
Terias conseguido, quem sabe, até mesmo
Enxergar atráves de toda a superficialidade plantada
Tornando-te, assim, passível
Da intensidade que me move,
Do tempo que comove-me,
Da angústia ou da felicidade
Que esperam-me após o breve instante de viver...
E quem sabe,
Quem sabe?!
Terias vivido tantos desses instantes comigo.
Fernando Martilis