Se pudesse, ao olhar para trás, relembrar todos os teus passos,
Qual o sentimento que te tomaria?
E qual sentimento te moveria novamente?
À frente?
Atrás?
Qual a sua prioridade hoje?
Fazer ou refazer?
Construir ou destruir?
Elaborar ou repensar?
Olhar por cima dos óculos, às vezes,
Pode significar enxergar melhor.
As lentes embassam e as certezas também.
As decisões tem um costume incoerente de perderem-se no tempo,
As horas passam e as certezas também.
Ao final, quando acreditávamos ter concluído tudo,
A dúvida parece ser um benefício singelo
Desenhada num sinuoso ponto de interrogação
Será?
E se?
E se for?
E se não for?
Para o mal ou para o bem, a dúvida acrescenta.
Um benefício?
Sim?
Não?
Não sabe?
Nem eu.
Fernando Martilis
Quis alguns minutos de expectativas
Mas a confusão das tuas atitudes me perturbam.
Nada me diz mais da nossa situação
Do que o teu sorriso perdido de uma felicidade que nem você mesmo compreende
Entretanto faz questão de estampar nas mais corriqueiras respostas aos cumprimentos diários
Você e eu temos o dom de sorrir para o azar
Que repousa sob a sorte de nos evitarmos
No nosso caso, o acaso do cotidiano é mera conjectura.
Vimos o quê?
Dois ou três filmes juntos?
Não me recordo de nenhum final contigo,
Nem mesmo os créditos nos preocupamos em dedicar
Aceitamos qualquer responsabilidade que nos for atribuída
Para o bem e para o mal.
Diriam-nos, em alguma breve conversa de botequim,
Que perdemos algumas boas horas das nossas vidas
Escalando as escadas da inquietude
Porque, convenhamos, quando a alma está inquieta
O corpo padece em valorosos e inúmeros amanheceres
Das mais intensas ressacas morais e qualquer outro tipo de ressaca.
Lavar o rosto de manhã cedo em certo dias
Me faz pensar que teria sido melhor mesmo continuar com a cara de ontem.
O ontem contigo eu até que já compreendo bem.
Fernando Martilis
Seremos as letras
Que formam aquelas frases que começam tudo;
- Oi, prazer.
- Como vai você?
- Namora comigo?
Seremos praia, serra e sertão,
Um colchão esticado num chão
Que acolha o nosso anoitecer,
Os nossos sonhos e o pertencer
De carinhos aconchegantes.
Seremos os protagonistas
Do filme das nossas vidas.
Seremos a manifestação dos nossos sorrisos,
Medos,
Lágrimas,
Celebrações.
Seremos nossas identidades
Mesmo quando não pudermos nos reconhecer
Na trivialidade de algum entardecer.
Seremos o sabor adocicado
Do beijo com gosto de chocolate,
Da sobremesa dos nossos desejos,
Daquilo que vem depois do que somos
No milésimo segundo que é agora,
Do agora em que somos nós.
Fernando Martilis
Sorrir quando a tristeza ofender,
recolher-se quando a expansão invadir.
Processar tudo.
Descartar somente o que não puder, sequer, ser reutilizável.
Não desistir antes da terceira tentativa.
Sempre ter alternativas, mais de uma.
Conseguir enxergar o fim como uma etapa necessária dos ciclos.
Que o luto demore o tempo de enxugar as lágrimas,
que novas perspectivas acordem conosco ao amanhecer,
que a dor não tome o espaço da esperança
e o medo não te impeça de subir em árvores,
de escalar a vida.
Reforçar o indispensável,
sempre,
o que é constantemente reforçado não se esvazia.
Doar a quem precisar.
Receptividade sempre, como o respirar, não pode faltar.
Movimentar para a frente,
avante e firme.
Quando não for tão firme,
é a hora de parar e avaliar.
A pausa de um suspiro, longo suspiro.
Pensa, refaz os planos e o percurso
E movimento de novo.
Apenas o mínimo é realizado sozinho.
O que de melhor existe na vida
só tem sentido quando é dividido.
A grande questão é quem escolher
Ou por quem fora escolhido
Para dividir a vida,
As vidas.
Fabricar o tempo,
Parece ser o grande desafio da contemporaneidade.
Estabelecer prioridades,
Não se desesperar além de uma breve dor de cabeça
E ser feliz na menor chance que tiver.
Fernando Martilis