Não vai!
Hoje não, vai ser melhor
O portão estará fechado
E não será pelo motivo que você imagina
Definitivamente a escolha não era essa
O mundo vai girar debaixo dos teus pés
Na pior volta da tua vida pra casa.
Não volta!
Não faz isso
Pensa mais um pouco
É uma armadilha
Que você mesma ajudou a criar
Por causa do enorme medo que sente de ficar sozinha
E essa pode ser a tua melhor chance de ficar sozinha
Ninguém vai a lugar algum
Nada mudará de lugar.
Não fica!
Eu te suplico!
Não fica nesse lugar
Vai sugar tua vida
Tua esperança, forjada depois de tanto sofrimento
Será destruída
Não terá partilha
Não terá desfecho
Você não precisa disso
Não merece isso
Não permite!
Não aceita!
Não devolve!
Não chora, não
Não fraqueja
Agora não
Não...
Não há mais nada, que eu possa fazer agora
Você fez tudo o que precisava fazer.
Fernando Martilis
O ar rarefeito
Com efeito, quanto maior a altura, maior a queda
Não há respostas nos manuais
Acreditem,
Fujam dos manuais
Certa vez escalei o medo
Me arrisquei a escalar uma montanha
Custou-me as unhas
Onde deveria existí-las
Dói-me a carne
O corpo todo
Embora minha doença seja na alma
As respostas não estão no alto
No alto, vejam bem, só perdi a capacidade de respirar
Mas já lhes contei essa história
Perdoem-me se continuo a contar histórias repetidas
Confundi-me a tentar subir essa outra montanha
A falta de ar me assusta
Mas não me paralisa
Daqui do alto, a face do medo
Lembra-me um rosto familiar
Transmutado
Outrora esperançoso
Hoje, cansado
Subiu demais
Escalou a sua alma
E caiu
Como de praxe, caiu
Não poderia deixar de ser diferente.
Fernando Martilis