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Do percurso


Na ida
Seguiu cheio de sonhos e expectativas
Despiu-se de tudo que o amarrava
Nu de todo o medo
Sorrindo esperança
Refletia novos tempos no olhar
Quando percebeu que precisaria dar meia volta
O olhar duvidou da capacidade dos próprios pés
Em ter que descaminhar aquele imenso percurso que já tivera feito
O sorriso perdera-se no meio do caminho
Recobriu-se de insegurança
Desconfiança
E tudo mais que pudesse ajudá-lo a se proteger
Aprendera a forjar novos sorrisos, olhares e revestimentos
Percebera o quanto a volta exigira dele
Percebera que ganhou a capacidade de recriar
Caminhos nos quais nunca esteve
Explanar experiências que nunca vivera.
No frustrado retorno,
Percebera, enfim, que ele poderia ser quem bem quisesse ser
Percebera até mesmo que conseguira suprimir toda e qualquer
Imagem de frustração do percurso que fizera.

Fernando Martilis

 

 

 

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Cativar

Tendo como convite a presença do silêncio
Aproximei-me aos pouquinhos, nunca rendi admiração ao silêncio.
Contudo já tinha me feito presente te observando
Buscando, talvez, algumas percepções.
Fascinado a observar um alguém que,
De alguma forma surpreendente,
Prendera minha atenção 
Despertando,
Misteriosamente,
O que de melhor sempre me inspirou.
Pode-se investir tanta verdade em um olhar?
Consequentemente, da mesma forma que acontecera com todos os homens
Que olharam fixamente nos olhos da sereia,
Petrifiquei ao olhar os teus.
Nem verdes, nem azuis.
Mas da cor que eu preciso.
Mas, por que preciso?
O que te fez tão essencial de forma tão repentina?
Por qual motivo tomas as minhas percepções desta forma?
Fazendo-me ignorar toda e qualquer racionalidade?
Em qualquer situação normal já teria na ponta da língua
Uma boa resposta que me deixasse imune ao teu cativante olhar,
E porque agora não consigo parar de gritar essas perguntas pra mim mesmo?
E porque não me canso das nossas longas conversas?
Porque me pego te querendo tanto e de uma forma tão simples?
Porque tenho a sensação que minha felicidade seria mais simples e bonita com você?
Porque determinas até mesmo as minhas preces?
O que eu tenho pedido?!
O teu olhar, sempre em direção ao meu.

Fernando Martilis

 

 

 

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Além das fronteiras

Pela presença do silêncio aproximou-se
Tendo antes observado tudo o que pudesse contribuir
A julgar melhor aquela situação.
Talvez olhá-la tão fixamente tenha sido o seu erro maior.
Como um daqueles homens que viram pedra
Quando olham nos olhos da sereia,
Ficou imóvel ao olhar bem dentro daqueles lindos olhos
Nem verdes nem azuis,
Mas da cor que precisava.
Mas por que precisava?
O que a fez essencial?
Perguntava-se.
Num breve instante de reflexão,
No tempo que durava sete ou oito passos,
Sem conseguir decifrar nenhum sinal,
Percebeu que, da forma mais simples e bonita,
Sentia que ela encaixava-se em algo que lhe faltava.
Ao chegar mais perto,
Aquele olhar cativante
Passou a expressar receio.
Ao esticar-lhe a mão, obteve como resposta um olhar em fuga.
Em contrapartida ao seu sorriso claro, balançou-lhe negativamente com a cabeça
Baixou a cabeça, talvez tentando enxergar dentro de si
E entender tudo o que sentia naquele momento.
Não a viu partir,
Também não a viu olhar para trás discretamente
Com um imenso desejo expresso no olhar de voltar e ficar...
Não a viu sumir levando consigo os motivos de não ter ficado.
Fernando Martilis