Inércia

Não é a escuridão que me assusta
Cresci com ela, dediquei-me ao seu convívio e
Fortifiquei-me à penumbra dos juízes e conselheiros que a rejeitam.
O que me assusta é o que a luz pode iluminar
Parte de enredos inacabados,
Restos de personagens que não protagonizaram as suas próprias histórias.
Sob a escuridão inexistem linhas tortas,
Cores desbotadas
Ou risos perdidos.
Simplesmente,
Não se perde aquilo que nunca se viu,
Tampouco ousou possuir.
Sob a escuridão as percepções são neutras
E as ausências substituíveis
Pelo vazio que não causa estanhamento.
Não desprezo a luz com todas as minhas forças,
E a santidade que inspira em alguns, 
Não me entendam mal,
Tão somente descrevo-me como um irremediável inerte
Repousando sobre o que sempre fora
Mais confortável à alma.

Fernando Martilis 




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